quarta-feira, 29 de junho de 2011

CHI CHI CHI LÊ LÊ LÊ! VIVA CHILE!!! (parte 1)

Acordo numa manhã de quinta-feira, após viajar mais de 14 horas. Tiro os cinco cobertores pesados de cima de mim e vou caminhando até a janela. Abro a cortina e olho para fora. Árvores secas ou repletas de folhas avermelhadas, uma arquitetura diferente daquela que estou acostumado e o mais impressionante, no horizonte, sobem montanhas. No topo das montanhas, lá está ela. Branca, fofinha e gelada: NEVE! Não estava sonhando, eu estava acordado... Em Santiago do Chile!

Amanhecer em Santiago, a partir do quarto onde fiquei
Após todo estresse pré-viagem causado pelas cinzas do Vulcão Puyehue e o estresse durante a viagem causado pela hospitalidade e educação dos funcionários do Aeroporto de Buenos Aires, o negócio foi relaxar e aproveitar os dias que tinha no Chile. Logo na chegada ao país, a estonteante visão da Cordilheira dos Andes que, mesmo durante a noite, aparece como um gigantesco tapete cinza sob seus pés, algo lindo e inesquecível.
Santiago é a cidade onde passei mais tempo, e que conheci melhor. Não que eu tenha conhecido muita coisa, afinal um dia não é suficiente para se aproveitar tudo que a capital chilena tem a oferecer. Até por isso, vou me focar mais nas impressões que a cidade dispertou em mim do que em dicas de lugares para visitar.
Santiago vista desde o Cerro San Cristóbal
 Logo de cara, o que chama atenção em Santiago é a segurança. A região metropolitana conta com 7 milhões de habitantes, mas com pouquíssimos casos de assalto. Tanto que eu e a Bruna (amiga minha que está fazendo intercâmbio no Chile) andamos por algumas ruas escuras do Centro, com câmera na mochila, muito mais tranquilamente que andaríamos por ruas semelhantes no Rio de Janeiro, ou em Belo Horizonte. Assaltos são raros em Santiago, mas a criminalidade está presente. No Chile, é muito comum a ocorrência de furtos, batedores de carteira são, pelo que dizem por lá, comuns. Por isso, é bom evitar carregar carteira no bolso das calças, porque os caras são mão leve mesmo. Eu, sempre que podia, levei a carteira, celular e outros documentos importantes no bolso interno do casaco. Ainda assim, não tive o menor problema quanto a segurança.
Bem, mas falando de coisas boas, Santiago tem várias curiosidades e coisas a serem observadas. As ruas são limpas e as calçadas amplas. Não vi nenhum mendigo, pouquíssimos vendedores de rua (na verdade, acho que não vi nenhum), mas a cidade é lotada de cachorros de rua. Aí que vem a parte interessante e engraçada. Os cães são, muitas vezes, de raça. Os chilenos não se espantam ao ver Huskies, Pastores-alemães, Cockers ou mesmo Labradores andando pelas ruas. Claro que há o bom e velho vira-lata nas ruas de Santiago, mas a quantidade de cachorro de raça (e bonito) nas ruas chilenas é impressionante. Os cães são mansinhos e sabem fazer como ninguém cara de cachorro sem dono, para derreter nosso coração de turista. Não só o nosso, mas dos santiaguinos também. Isso porque muitos dos cachorros de rua são agasalhados! Sabe aquelas roupinhas de cachorro que brasileiros compram para seus pets? Então, lá, elas são dadas a cães de rua, assim como cachecóis(!).
Pombos gordos do Chile
Falando ainda em animais, os pombos santiaguinos são impressionantes. Eles são bem maiores que os brasileiros, muito provavelmente, para combater o frio de -1.2°C que fez em Santiago, nos dias que estive por lá. Não sei se eles são mais gordos ou se tem as penas mais estufadas, mas eles são maiores, mais cheios do que os pombos daqui. Além disso, são mais corajosos. Desconfio que o pessoal do Chile não os persiga, por isso, quando você passa por eles, eles apenas saem do caminho, mas não se afastam das pessoas. Sendo politicamente incorreto, chutar um pombo em Santiago não é difícil. Não que eu tenha tentado.
Em questão de transporte, o Chile tem coisas muito boas e também coisas... peculiares. Começando pelas peculiares, viajei para El Quisco (Isla Negra), Viña del Mar e Valparaíso de ônibus (vou falar sobre essas cidades na próxima postagem). Segundo a Bruna, as passagens de ônibus de viagens não têm um preço fixo, como no Brasil. Varia de acordo com o horário e a procura pela viagem. Saca a Lei da Oferta e da Procura? É ela que rege os preços das passagens chilenas. Ainda assim, são muito baratas. Por exemplo, de Santiago a Isla Negra a passagem custou uns 10 reais. Belo Horizonte a Divinópolis (MG), que dá quase a mesma distância, as passagens não saem por menos de 30. Quando você embarca no ônibus, repara numas televisõezinhas no teto. Nas viagens costumam ser exibidos filmes ou DVDs de clipes musicais. Indo de Isla Negra para Valparaíso, fomos obrigados a assistir em loop um DVD chato pra caramba de músicas dos anos 90 remixadas. Já de Viña para Santiago, a empresa exibiu o filmaço Peixe Grande, com Ewan McGregor. Pena que a viagem acabou antes do filme.
Dentro de Santiago, você pode se transportar via ônibus e metrô. Nos ônibus, você não paga com dinheiro, apenas vale-transportes e, ao que parece (não peguei ônibus), você paga para entrar no ponto e não para entrar no ônibus, no melhor estilo Curitiba (se eu estiver errado, me corrijam). Já o metrô é um espetáculo a parte. Cinco linhas cortam Santiago, te levando para qualquer lugar da cidade. O metrô, curiosamente, tem pneus no lugar das rodas de metal que vemos por aqui. Não são todos os trens, mas a maioria que peguei são com pneus. Entre uma composição e outra, o tempo de espera é menor que um minuto. Para quem está acostumado ao metrô demorado e mal administrado do Rio de Janeiro, o sistema de Santiago é de deixar de queixo caído.

Se locomover pela cidade não é difícil. Como eu disse, o metrô te leva a todos os pontos da cidade (mas são muitas estações, você vai perder um tempo tentando bolar o melhor caminho para chegar do ponto A ao ponto B). Caso fique perdido, peça ajuda aos chilenos, que vão te responder com a maior simpatia (aprendam, argentinos!). O problema é que chilenos falam chilenês. Sabe aquele espanhol basicão que você aprendeu na escola (ou não)? Então, ele não tem a menor utilidade, caso você queira entender um chileno falando. Sério, nossos amigos dos Andes falam outro idioma, mais parecido com klingon do que com espanhol! Mas não tenha medo de usar seu portunhol para pedir para eles falarem mais devagar. Santiago recebe tantos brasileiros que os chilenos já estão acostumados com nosso parco conhecimento da lingua deles. Na verdade, temos um parco conhecimento do Chile.

Terminando o breve (ou não) relato das minhas impressões sobre Santiago, queria comentar sobre a alimentação local. Logo de cara, no meu primeiro café da manhã, fui apresentado ao Aji. Ele tem a aparência de um molho de tomate, mas é MUITO apimentado. Sério, poucas vezes na vida comi algo com tanta pimenta! Queima a língua, queima a garganta, queima tudo! Mas é muito bom! Trouxe um vidro para o Brasil e já me acostumei com o sabor, conseguindo comer hoje um pouco mais do que a minúsucula gota que comia no meu primeiro dia no Chile.
No Chile, tive a oportunidade de experimentar o Mote con Huesillos. É uma espécie de pêssego em calda com grãos de trigo. Muita gente adora, mas eu achei meio sem graça. Você que procura algum salgado gostoso para encher a barriga, pode correr atrás das famosas Empanadas. É uma massa de trigo fina e assada, com um recheio dentro. Pode ser carne, queijo, frango, camarão, peixe, etc... Existe para todos os gostos, vale a pena demais experimentar! Outra boa pedida é a (supalpilla - não sei como se escreve). É uma massa redonda frita, lembrando muito massa de pastel, onde você joga alguma coisa por cima e come. Essa coisa pode ser catchup (que é um pouco mais salgado que o brasileiro), mostarda, maionese (que é bem amarelada, mas o gosto é o mesmo), Aji ou seja lá o que for. Esse salgado é vendido na rua, em pequenos traileres, estilo os de churros no Brasil.

Cachorro quente com abacate!
Agora, pra fechar o texto, que ficou gigante, vamos falar da coisa mais bizarra na culinária chilena: O completo con palta. Em bom português, cachorro quente com abacate! A cara que você deve estar fazendo agora é a mesma dos latino-americanos ao descobrirem que comemos abacate com açúcar. Sim, no restante do continente, abacate se come salgado, inclusive no cachorro quente. A primeira vez que comi, detestei, mas porque o abacate estava meio estragado, segundo a Bruna. Dei uma segunda chance para a palta e comi num hamburguer e, vou te falar, não é ruim não! É diferente, meio estranho, mas é gostoso! Recomendo que experimentem!
O texto ficou gigante e nem falei de tudo. Farei mais postagens nos próximos dias!

Buenas noches, weones!

Lucas C. Silva

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