domingo, 15 de abril de 2012

Cada vez mais próximo

De banho tomado, de barriga cheia e roupa trocada, ele estava sentado na cama. Ao lado de seus pés, a mochila com as roupas. Ele estava morto de cansaço. Uma noite viajando acordado e um dia rodando pela cidade com uma mochila nas costas era capaz de destruir qualquer um. E com ele não era diferente.

- Pode dormir - disse Carlos, passando pelo corredor - Não precisa se preocupar, quando der a hora, a gente te acorda.

Ele se deitou e virou para a parede. Ainda se perguntava se estava fazendo a coisa certa, mas era tarde demais. Não tinha mais volta. Frio na barriga, uma vontade incontrolável de rir e uma ansiedade sem descrição. Cansaço, mas total falta de sono. Não conseguia dormir, não com o que se aproximava com a velocidade de um avião.

O momento se aproximava e com ele, o nervosismo e a dúvida. E de pensar que um pouco mais de 24 horas antes estava decidido a não estar ali. Estava feliz em casa, com o emprego novo que parecia surgir, com o novo rumo que sua vida estava tomando. Não tinha porque fazer aquela viagem, reabrir aquela ferida que começava a cicatrizar. Mas ali estava, deitado na cama, olhando para a parede com uma mistura de medo e felicidade. Uma vontade louca de rir e cantar, mas também de fugir, de voltar para casa. Era tarde, Inês era morta. Não tinha como...

Dormiu.

- Oi. Acorda. Chegou a hora, estamos indo ao aeroporto.

Ele acordou, com aquela sensação esquisita que sentimos ao dormir no meio da tarde. Olhou pela janela, já era noite. Havia chegado o momento.

O carro cortava a rodovia em alta velocidade, para o norte. Ele mascava seu chiclete, segurava o pacote de Passatempo recém comprado na loja de conveniência de um posto de gasolina e via o trânsito passar, absorto em seus pensamentos. Cada vez mais próximo do aeroporto, não sabia o que pensar, não sabia o que sentir. Não sabia o que estava fazendo ali. Era tarde demais para qualquer dúvida. Já estavam no aeroporto, caminhando para o portão de desembarque internacional. A pedido de Carlos, ele foi procurar um mini DVD, para a filmadora. Não encontrou o disco, não a viu desembarcando.

O reencontro foi diferente do que imaginava. Melhor? Pior? Nem ele sabia. Não era fácil comparar a realidade com uma idelização que ele não conseguia fazer direito. Ali estavam novamente. No mesmo aeroporto, depois de um longo tempo que, ao mesmo tempo, passou tão rápido e tão lento. Se abraçando novamente, mas não como despedida, mas como um reencontro. Que bom, ela havia chegado. O medo irracional que ele tinha de o avião dela cair não havia se concretizado. Ela estava ali, no chão, de volta.

Voltaram para casa. Jantaram, conversaram, cada um tomou seu rumo para ir dormir. Ele voltou à cama, se sentou e ficou olhando para o chão, ainda sem saber se havia feito a coisa certa.

- Obrigada por ter vindo - disse ela, na porta do quarto, com um sorriso.

- Ah, de nada... - ele respondeu, sem graça.

- Sério, fiquei muito feliz com sua vinda - disse ela caminhando na direção dele.

Os dois se abraçaram mais uma vez. Dessa vez, um abraço mais longo, de amigos de longa data, que não se viam. Se soltaram e, com um sorriso, ela desejou boa noite, indo embora.

Sozinho no quarto, ele se deitou na cama e voltou a virar para a parede. Ainda sentia frio na barriga. Ainda sentia uma vontade louca de rir e cantar. Ainda não sabia se havia feito a coisa certa. Mas, com o coração menos apertado e mais feliz, dormiu mais uma vez. Sem a menor dificuldade.

Um comentário:

Lu Piras disse...

Parabéns pelo texto, Lucas!
Gostei muito do seu estilo de narrativa. Você escreve muito bem. Isso não é novidade para mim.
Estou curiosa para saber mais sobre esse reencontro! :)

Beijocas,

Lu
@LuPiras
www.equinocioaprimavera.blogspot.com