domingo, 29 de dezembro de 2013

A luz acesa do quarto

"Não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem"

Sempre fui muito cético quanto a fantasmas, espíritos etc. Aliás, ceticismo acho que é demais. Não desacredito neles, mas também estou longe de acreditar. Mas, em meados de 2008, aconteceu algo na casa da minha avó que abalou um pouco dessa descrença.

Minha avó é uma mulher meio econômica. Evita desperdício de água, usa o fogão a lenha para gastar menos gás, não prolonga muito os banhos e sempre que sai de um quarto, apaga as luzes. Tendo em mente essa última recomendação, nos dias que eu passei na casa da minha avó - só eu e ela - tentei fazer o mesmo. Após passar o dia inteiro andando de um lado pro outro em Carmo do Cajuru, eu ia para a casa dela - já de noite - para tomar banho. Entrava no meu quarto, pegava a toalha, as roupas limpas, apagava as luzes, atravessava a copa e entrava no banheiro. Era tudo tão automático que eu nem prestava atenção no que fazia. Até porque, geralmente, eu fazia isso ouvindo música, pensando em alguma garota, ou sei lá, planejando as aventuras do dia seguinte.

Depois do banho, quando eu entrava na cozinha, via a luz do meu quarto acesa. Estranho, lembrava de tê-la apagado. Tudo bem, eu pensava "no dia seguinte vou fazer questão de apagar a luz".

Um dia depois, aconteceu a mesma coisa. Cheguei em casa, me preparei, fui pro banheiro, quando saí, a luz do quarto estava acesa. No dia seguinte também. E no outro. O mais estranho é que essas coisas aconteciam quando a minha avó estava na igreja, então eu estava sozinho na casa. E eu tinha certeza que tinha apagado a luz. Meu ceticismo ia se abalando todos os dias, especialmente quando eu cruzava a sala onde o meu avô foi velado, quando morreu em 1996. Será que ele queria se comunicar comigo de alguma forma? Ou que ele queria me pregar uma peça?

Aí que chegou o dia que eu ia descobrir o que estava acontecendo realmente. Desliguei a música, parei de pensar em qualquer outra coisa. Fui ao banho, concentrado no banho. Peguei as roupas, sabonete, xampu, saí do quarto e apaguei a luz. Acendi e apaguei novamente para ter certeza. Atravessei a copa onde meu avô foi velado, entrei na cozinha e, de lá, no banheiro. Depois de tomar banho, abri a porta do cômodo e, ao olhar para o corredor, vi a luz do meu quarto acesa.

Meio assustado, me lembrei de algo que aconteceu quando entrei no banheiro. Pendurei as roupas, coloquei o sabonete e o xampu no lugar certo e, quando eu ia abrindo o registro do chuveiro, percebi que esqueci a toalha. Voltei ao quarto, acendi a luz, peguei a toalha e fui para o banheiro. Tinha esquecido de apagar a luz. A certeza que eu tinha nos dias anteriores era aquela certeza falha, que você tem e não tem ao mesmo tempo.

Nos dias seguintes, certamente apaguei a luz do quarto. E, voltando para lá, via ela apagadinha, como deveria estar.

@OLucasConrado

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